domingo, 30 de agosto de 2009

Um caminho repleto de “ANJOS”


O terceiro dia foi maravilhoso, na verdade todos foram, cada um com sua particularidade. Começamos este dia animados, e com uma meta de pedal mais tranqüila, lembrem-se: tínhamos que terminar o Caminho da Fé em um tempo determinado, o que nos pressionava a manter metas, porém neste dia, resolvemos “ir de leve” sem se importar com o prazo.

Seria redundância falar das subidas intermináveis e maravilhosas, ou mesmo do cenário fascinante, mas nunca será demais falar dos “Anjos” que estão no caminho para hospedar, alimentar e dar suportes aos peregrinos. A Rô já falou da Dna. Natalina, na Serra dos Limas, sensacional, e olha que esta bondosa senhora não queria que recomeçássemos o pedal antes dela fazer pão e café (que seria torrado na hora), não pudemos esperar, partimos em rumo ao outro local.

Chegamos a Barra bem cedo, mesmo nos perdendo (sem comentários, o caminho é muito bem sinalizado), fomos recebidos pelo Tio João, em sua pousada reside uma família inteira de anjos: João, a esposa e seus dois filhos.
Deste dia ficou para mim a mensagem que existem pessoas que quando se dispõe a fazerem alguma coisa com amor, fé e alegria, elas conseguem contagiar aqueles que cruzam seu caminho, fazendo uma enorme diferença. Eu sei que minha vida mudou para melhor depois que vi, conversei e tirei fotos com anjos.

Abraços a todos, Agnaldo.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Caminho da Fé - 3º dia

12/05/09

Fiz um acordo com o Agnaldo, hoje vamos pedalar menos, assim, tento descansar um pouco.
Saímos relativamente cedo da pousada Pico do Gavião, descendo para Andradas, apenas 10K, em um caminho que mais parece um single track ladeira abaixo... no final da descida, encontramos um casal que estava completando o caminho à pé, de Santa Catarina. Esses, fazem competição de caminhada, um barato!


Carimbanos nosso passaporte no hotel da cidade (Palace Hotel) e paramos na praça, para ligar na pousada seguinte, que pede ao peregrino que avise, caso tenha a intenção de almoçar ou pernoitar. Foi quando um taxista veio conversar com a gente, se dizendo devoto de Nossa Senhora, abençoando nossa jornada.

Seguimos então para Serra dos Lima, mais 14K. Caminho agradável, muito bonito e com muita subida também!!! e vamos nós empurrando as bikes morro acima. O Agnaldo me ajudou muito, ele fazia assim: levava a bike dele pro topo e voltava buscar eu e minha bike. Com isso eu ganhava um tempo pra descanso... pelo menos achei vantagem, na hora!

Chegamos na Pousada da Natalina, uma graça de pessoa - está ficando redundante escrever isso - que nos preparou um belo macarrão com molho de milho verde, delicioso... lá encontramos outro casal de peregrinos, de São Carlos. Na verdade, eles são fugidos de São Paulo, fugidos no bom sentido, no sentido de que todos cansam da agitação e neuras da grande cidade... eles também iam pousar em Barra, mais 7K. Como o caminho era tranquilo, ficamos mais um pouco para descansar e conversar com Dona Natalina, enquanto os caminhantes seguiram caminho...

A vontade de chegar cedo e descansar era tanta, que erramos a entrada da pousada em Barra e acabamos andando mais 2K! Só nós mesmos... chegamos n a divisa com Jacutinga, por terra. Até um mineirinho simpático nos abordar, vendo dois perdidos embaixo da placa: - Acho que vocês passaram a entrada, sô!!! Volta um bocadinho...
E lá fomos nós, retornando até a entrada da cidade, que dá no "campo de futebol"... é verdade! basicamente Barra se compõe de: um campo de futebol, com um bar do lado, uma igreja, uma escola e a rua de casas... nem no google earth aparece essa cidade! Mas nós estivemos lá...

Chegamos na Pousada do Tio João, figurassa!
Só pensando em tomar um banho, descansar, comer bem e se preparar para o dia seguinte.

Carimbos do Dia:
ANDRADAS
• Palace Hotel
SERRA DOS LIMA (Municipio de Andradas- MG)
• Pousada da Dona Natalina
BARRA (Município de Ouro Fino - MG)
• Pousada do Tio João - João Batista

:)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Planejamento X Limite

O segundo dia foi um dos mais difíceis por duas razões principais:
1º - A ansiedade que gera uma força positiva já não existe mais, agora estamos no caminho e não tem volta.
2º - Quando se tem uma data limite para terminar o caminho e seu prazo é curto, haverá uma pressão para cumprir o planejamento independentemente se o pedal do dia é longo ou não.
Com toda a exuberância do cenário e a alegria de estarmos fazendo o que queríamos, nos deparamos com uma dificuldade: o trecho do dia era longo, não tanto quanto o do primeiro dia, mas com muitas subidas e o cansaço chegou mais cedo.
Depois da metade do caminho à percorer, chegamos em Águas da Prata, sede do Caminho da Fé. Lá conhecemos o Sr. Clóvis, um dos idealizadores do caminho, que nos deu informações precisas e muitas dicas importantes. Estávamos com medo do horário que iríamos chegar no Pico do Gavião, mas o Sr. Clóvis disse que pelo horário, conseguiríamos chegar na pousada ao anoitecer, que o lugar era aberto e muito bonito. Disse para aproveitarmos e alertou: – Se chegássemos a Luminosa por volta das 13 horas não deveríamos seguir para Campista, pois o ideal seria reservar um dia inteiro para este trajeto de apenas 13 km! (assunto para o 6º dia). Mas que para o Pico do Gavião, mesmo no escuro, iríamos curtir a pedalada!
Pico do Gavião, lugar conhecido no Brasil e no exterior pelos amantes do vôo livre, dá para imaginar a parede que tínhamos que subir pedalando? O que mais curtimos no pedal são as subidas, não temos problemas com isso, porém estávamos nos adaptando ao peso da bike com os alforjes e a noite vinha chegando.
Perto das 18 horas, quando na serra começa a escurecer, bateu uma preocupação, meio sem sentido, mas motivada pelo cansaço. Ela veio e começou a nos incomodar. Essa tal de preocupação não pode acompanhar o peregrino nunca! Por alguns momentos ficamos agitados, nervosos, pensando na escuridão e deixamos de apreciar o que estava a nossa volta, a beleza da escuridão e o som ensurdecedor do silencio. Depois de algumas reclamações e resmungões, coloquei o farol na minha bike, a Rosana não quis que colocasse na bike dela, porque realmente faltava muito pouco. Porém, muito pouco em subida, significa só muito e nada de pouco, mas para não aumentar a voltagem da nossa conversa, eu topei e fomos só com o farol da minha bike, loucura total! Em poucos minutos ficou o maior breu e eu pedalava meio que em zig zag, tentando iluminar o meu caminho e o dela. Foi uma comédia, pensando nisso agora, mas na hora, foi um terror. Basta ler o relato da Rô sobre o segundo dia. Chegamos pouco antes das 19 horas.
O que aprendemos disso: As informações são precisas, não tem erro, tanto que chegamos perto do que planejamos e o mais importante: CONFIANÇA NO SEU PEDAL OU CAMINHADA, isso é fundamental para se evitar stress desnecessários. Depois dessa experiência, resolvemos pedalar mais light no outro dia, que foi um dos mais sensacionais da jornada.
Abs. Guina

domingo, 9 de agosto de 2009

Caminho da Fé - 2º dia

11/05/09
Saímos da Cidinha às 8h, já com saudades da hospitalidade e acolhimento!

Seguimos morro acima em direção à São Roque da Fartura. Um belíssimo caminho, com bastante morro, um sobe e desce sem parar... pensávamos: porque subir tanto se vamos descer??? hehe
Mas a paisagem desse local é formidável, terras muito produtivas, dá gosto. Em São Roque da Fartura, pra chegarmos na Pousada da Cachoeira, ou Pousada da Cida - como é mais conhecida - tivemos que vencer uma parede. Sabe o que é subir uma parede? Só sabe quem passou por lá...

Chegando na pousada, Dona Cida tinha ido à cidade, ou melhor, ao banco. Mas tudo é feito para deixar o peregrino à vontade. Na parte de baixo da casa tem o quarto com as beliches e banheiro. Mesmo a dona da casa não estando, a porta fica destrancada. Isso é para mostrar que existem pessoas que acreditam no próximo e que acreditam no caminho.
Logo em seguida chega Dona Cida, uma senhora muito simpática... descubro que é uma campineira de coração. Dona Cida é prima do falecido seu Borges, dono de uma academia de judô bem conhecida na cidade. Passou boa parte da sua infância na cidade das andorinhas... eh mundo pequeno!
Tomamos um água, super, hiper, mega gelada, que vem da nascente da pousada, tiramos umas fotos e seguimos para Águas da Prata. O dia ia ser longo, não podíamos perder muito tempo. Além do mais, o trecho até a sede do caminho é de 16k. Trecho forte!
Quando estávamos pra chegar na cidade, pegamos uma descida que mais parecia um single track estilo downhill... de doer as mãos! Encontramos uns caminhantes, de São Paulo, descançando no meio da descida.

Chegamos na sede do caminho às 13h.
Fomos almoçar num restaurante perto da rodoviária e voltamos para a sede, só pensando em descançar um pouco.
Às 15h saímos em direção à pousada do Pico do Gavião, 24k.
Essa foi mais do que mega power super hardy... tinha que descer da bike e empurrar! Como é ruim andar nas pedras de sapatilha!!!
Como o caminho era muito difícil, com muitas subidas impossíveis de pedalar, eu já estava cansada e começando a escurecer, me deu desespero! Fechei a cara e queria jogar a bike em qualquer lugar, me questionando aos prantos o que mesmo eu estava fazendo naquele lugar, nas minhas férias!!!
Me lembrando agora... q dó do Agnaldo... ele, todo paciente, arrumou a bike e colocou os faróis...
Chegamos na pousada às 18h50. Foram quase duas horas pedalando no escuro, em um local desconhecido, mas eu podia ter me saído melhor... ah podia!
Estava com um humor terrível, mais azeda que abacaxi azedo... limão talvez!!!
Cansada, muito cansada, de doer as pernas e sentir que meus batimentos não queriam voltar ao normal... nesse momento pensei em jogar a toalha, desistir. Já não conseguia refletir sobre o objetivo de estar lá! É duro... bastante!

Achei melhor pensar amanhã e tentar dormir.

Carimbos do dia:
SÃO ROQUE DA FARTURA (Município de Águas da Prata)
• Pousada Cachoeira (Da. Cida)
ÁGUAS DA PRATA (Sede do Caminho da Fé)
• Pousada do Peregrino
ANDRADAS - MG
• Pousada Pico do Gavião

DST - 54K
AV - 9.3 km/h
TM - 7h12min
:)

domingo, 2 de agosto de 2009

Vencendo a ansiedade

CREDENCIAL
A credencial é um documento que o peregrino retira na cidade onde inicia sua trajetória. Esse documento deve ser carimbado nas pousadas ao longo do trajeto e apresentado na Secretaria da Basílica de Aparecida, para recebimento do Certificado de Conclusão.
A sede do Caminho da Fé é em Águas da Prata/SP, onde fica a Associação dos Amigos do Caminho da Fé. Nesta cidade o caminho foi inaugurado em 11.02.2003, porém as credencias podem ser retiradas em varias cidade, portanto a numeração de nossas credencias 3.600 e 3.601 refere-se às credencias retiradas somente em Tambaú.
O fascínio que a credencial exerceu sobre nós foi impressionante, a cada carimbo conquistado sentíamos a emoção de uma etapa atingida. Só estando lá para sentir o valor e a importância de um simples “carimbo”. Através de coisas simples podemos realizar grandes sonhos.

SUBIDAS

Constatamos logo no início o que já sabíamos!
Quando fica impossível de pedalar e temos que empurrar a bike, usando sapatilhas e com o peso dos alforjes, a dificuldade é tremenda. As pedras e erosões fazem com que apoiemos as pontas dos pés no chão e o taco (uma trava de metal, que fica na sola da sapatilha) escorrega, ou seja, fazemos muito mais força empurrando a bike do que pedalando.
E olha que as subidas nesse nível não foram poucas, algumas intermináveis. Sabe quando você vê uma curva e pensa “depois dessa curva acabou” e descobre que você só subiu a parte mais fácil, que a pior esta a sua frente? Então isso foi comum, tanto que desenvolvi a técnica da “copa das árvores”. Eu falava para a Rosana: - Tá vendo a copa das árvores? Não tem mais nada além daquelas logo ali na frente, o que significa que a subida terminou, uhuuuu. ... estava enganado, era uma curva e tinha muito mais, mas nem ligávamos, na outra subida eu falava a mesma coisa, e servia de alento. O importante é que eu estava acompanhado de uma pessoa maravilhosa, persistente, às vezes até teimosa, e os obstáculos eram vencidos a cada dia, com maior ou menor dificuldade, mas eram vencidos.

CASA BRANCA
Chegamos a Casa Branca na hora do almoço e, resolvemos procurar um lugar no centro da cidade, confesso que fiquei assustado. A cidade abriga um presídio, muitos dos familiares dos presos se mudaram para a região. Nos finais de semana, por causa da visita, muitas pessoas de fora vão para lá, com isso, encontramos muitas pessoas que de alguma forma parecia nos hostilizar, não tem nada haver com os moradores da cidade, apenas não nos sentimos confortáveis para sentar no banco da praça e descansar, uma sensação muito ruim. Com isso, saímos do restaurante, freqüentado por umas pessoas estranhas e fomos direto pedalar, para fora da cidade.

Paramos debaixo de um viaduto na rodovia. Esta experiência foi positiva sobre dois aspectos:
1º. Um motoqueiro com uma CB 400, moto que fazia um tempão que eu não via, nos vendo sentados na grama, bikes com alforjes, bandeira do Brasil, parou e veio conversar conosco, um peregrino que já fez o caminho de bike, foi como dizem “maior legal”, nos deu alguns conselhos e foi embora.
2º. Decidimos que não almoçaríamos mais, o melhor é levar um lanche para a parte da manhã e outro para tarde. O gel, as frutas e as barrinhas seriam suficientes, porém o jantar seria indispensável e fundamental. Não temos o costume de jantar, mas na viagem era a melhor coisa do mundo.

HOSPEDAGEM
No site do Caminho da Fé tem uma lista de pousadas e hotéis em todo o percurso do caminho, com endereço, telefone, pessoas para contato e sempre com mais de uma opção em cada local. É possível planejar seu pedal e determinar onde ficar, porém em algumas situações o planejamento tem que ser mudado. Podemos demorar mais do que o previsto ou ser mais rápido, e assim ficar em local diferente do planejado. O importante é observar se o local pede que informe sua estada com antecedência, alguns são sítios e precisam se preparar para receber o peregrino.

SUFOCO
Para o primeiro dia planejamos dormir na Pousada da Cidinha, em Vagem Grande do Sul. Imaginem só, era o primeiro dia, a ansiedade a flor da pele, não conhecíamos as indicações do caminho que, diga-se de passagem, são perfeitas, não da para se perder, mas até pegarmos confiança vai algum tempo. Com isso, estávamos inseguros e logo de cara planejamos pedalar mais de 70 km com muito morro, mas muito mesmo, subidas alucinantes, chegamos a tocar as nuvens, bem... quase. A Pousada da Cidinha não é uma das que precisamos fazer reversas, mas como todo paulistano organizado e agitado, eu tentei ligar várias vezes durante o dia, onde tinha sinal, evidentemente, mas não tinha conseguido. A noite foi chegando, cansaço nem se fala, e aí o bicho pegou, ficamos meio que desesperados para chegar, quando enfim chegamos, eu aprendi mais algumas coisas:
1º. O caminho é chamado de Caminho da Fé por uma razão muito simples, a própria fé.
2º. Confiar nas informações que contam no site é muito importante, pois chegamos exatamente no quilometro marcado, ou seja estávamos sempre no caminho certo.
3º. Existem anjos de verdade, eles estão em torno do Caminho da Fé e recebem os peregrinos de tal maneira que dá sentido a sua jornada, portanto vá com fé.

No final deste primeiro dia aprendemos que ter a fé é como uma "âncora", que nos mantém seguros em nosso propósitos.